terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap. 6 (parte 2 de 2)


Reiniciaram viagem e ainda demorou um pouco até que Rafael respondesse.
- Tornando uma longa história curta, o meu avô foi morto graças ao teu avô. - disse de uma forma seca, embora controlada.
- O que aconteceu?
- Foi preso e morto, acusado de bruxaria pelos sacerdotes da nova fé...
Diana aguardava por mais em silêncio, mas Rafael nada dizia.
- E o que teve o meu avô a ver com essa história? - acabou por perguntar.
- Atraiçoou-o! - respondeu, visivelmente afectado pelo que contava.
- Como?
Rafael pressionava os maxilares, mastigando aquele assunto do qual não lhe apetecia falar. Providencialmente tinham acabado de chegar às portas da citadela, facto que aproveitou sem demora.
- Chegámos! Lamento, mas teremos de terminar por aqui. Tenho assuntos a tratar de imediato.
- Está a tornar-se um hábito deixarmos conversas a meio...
Diana desmontou do cavalo e recordava um outro assunto que ficava sempre por perguntar.
- Preciso saber como escondes o teu dragão! - perguntou.
A pergunta apanhou-o desprevenido, mas a mudança de tema foi para si um alívio.
- Vou ficar por aqui uns dias. - acabou por responder - Voltamos a falar e explico-te como o faço.
Diana não se resignara, mas sentia alguma satisfação por Rafael se ter comprometido a falarem naqueles dias.
- Onde nos encontramos?
- Eu encontro-te. - respondeu Rafael.
Fez um aceno com a cabeça e partiu a cavalo.

No segundo dia após a visita a Selénia, ainda não tinha tido notícias de Rafael. Diana pensava que deveria ter-lhe arrancado o final da história naquele momento, não o deixando ir sem que terminasse. Mas não o tinha feito! Deixavam sempre um assunto a meio, o que começava a tornar-se irritante. Nunca sabia quando o voltaria a ver! Decidiu então dar uma volta pela vila, esperando encontrá-lo.

Rafael tinha terminado o assunto que o levara ali e já tinha outro em mãos. Uma aldeã veio ter consigo pedindo-lhe que resolvesse um problema que sentia há já demasiado tempo. Pedira-lhe que terminasse com a vida de um sentinela que abusava da sua posição privilegiada e a ameaçava constantemente e ao seu marido, abusando fisicamente de si e das suas duas filhas. Não conseguindo tolerá-lo mais, procurara resolver o assunto pelas suas próprias mãos. Ela contara-lhe não ter conseguido o seu intento e só ter piorado a sua situação, pelo que tinha recorrido à sua ajuda. Oferecera-lhe um medalhão de família que ainda tinha algum valor. Rafael apenas aceitara o medalhão perante a sua insistência, pois nada lhe custaria restituir a honra e harmonia àquela família. Fá-lo-ia de bom grado. E era esse o assunto que tratava no momento. Seguira o sentinela até ao local onde se celebravam os rituais da nova fé, um lugar a que chamavam de igreja e que ficava próximo da praça principal e das casas dos nobres da vila. Tinha de esperar. O sentinela fazia parte da guarda que parecia ter sido destacada para acompanhar um sacerdote que vinha de fora. Porquê ou do quê precisariam protecção é que ele não conseguia imaginar. Mas tinha-os seguido até ali. Alguma cerimónia se iria realizar, o que talvez lhe providenciasse a distracção necessária para cumprir a sua missão naquele momento. Sabia por experiência própria que os locais com mais pessoas podiam prover maior protecção e possibilidade de fuga.

Diana acabara de sair da praça quando avistou Rafael a entrar no local onde se iria realizar um rito cerimonial da nova fé. Estranhara a sua presença ali. Não fosse ele conseguir esconder a sua marca e aquele seria um lugar demasiado perigoso. Ela não se sentia confortável em entrar ali, mas o punho em pele tapava a sua marca e queria falar com Rafael. Resolveu encontrá-lo no interior.

Rafael reconhecia o espaço, localizava as saídas e possibilidades de refúgio no interior. Após a entrada dos sacerdotes por um corredor central, diversos sentinelas dispersaram por corredores laterais. O sentinela que vigiava encontrava-se entre estes. Através de olhares e comportamentos que permitiriam imaginar alguma intenção duvidosa, Rafael conseguiu atrair o sentinela até um canto mais solitário, aguardando-o por trás de uns reposteiros em tom escarlate.

Diana entrara no local e, olhando em volta, avistou Rafael na lateral, vindo na sua direcção e desaparecendo por trás de umas pesadas cortinas. Acelerou então o passo, aproximando-se das mesmas, sem ver que um sentinela o seguia, também na sua direcção. Diana chega no momento em que Rafael espeta o punhal no peito do homem e fica parada, perplexa, sem saber como reagir. Rafael deixa o corpo cair, retirando a sua arma, e olha em volta, quando vê Diana. A primeira reacção desta, frente ao seu olhar, foi fugir. Rafael reage rapidamente, agarrando-a pela cintura, o que a fez soltar um gemido quase mudo. Diana debate-se, tentando soltar-se sem sucesso. Rapidamente volta a arrastá-la para trás das pesadas cortinas, procurando não chamar a atenção das pessoas em volta.
- Se não parares de te debater, não vou pensar duas vezes em usar a minha lâmina!
Diana parou, ainda sem saber o que pensar, dizer ou fazer, perante aquela situação.
- Assim está melhor! Vamos sair pela porta e atravessar a praça. Trata de passares despercebida. - dizia, dando-lhe o braço para ela segurar e soltando-a devagar.

Ela segurou o seu braço e sentiu a lâmina do punhal encostada às suas costelas, escondida pelo braço de Rafael. Assim atravessaram a praça, de passo apressado e o mais naturalmente possível.
- Deixa-me ir! Prometo que nada conto! - tentou Diana.
- Continua a andar. - respondeu ele, repartindo a sua atenção entre Diana e os aldeões em volta.

Estava habituado a não deixar testemunhas, mas não queria mal a Diana. Não sabia o que faria depois, mas, naquele momento, o objectivo era distanciar-se o mais possível da praça e das outras pessoas, depressa e sem dar nas vistas.

Ao passar as portas da citadela e se afastarem do caminho principal, Diana pensava que quanto mais se afastassem, mais difícil seria fugir-lhe. Tomou então coragem e libertando suavemente o braço de Rafael, afastou-se da lâmina do seu punhal, correndo o mais que podia de volta ao caminho. Rafael rapidamente a alcançou e imobilizou. Sem pensar duas vezes e embainhando o punhal, agarrou Diana pela cintura colocando-a no seu ombro e segurando-a pelas pernas como se de um saco de bens se tratasse.
- Larga-me! Põe-me no chão! - gritava Diana, investindo nas suas costas com os punhos fechados.

De súbito, um clarão surgiu na mente de Diana, trazendo um torpor. Não conseguia pensar claramente. Fechava os olhos, mas era como se olhasse o sol de frente e a sua luz intensa não permitisse vislumbrar nada em volta. Até tudo ser luz e a sua consciência ceder.

Rafael avançava carregando ao ombro, uma Diana agora adormecida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap. 6 (parte 1 de 2)


Diana despedira-se de Selénia prometendo voltar em breve e pusera-se a caminho. Passou ao largo da clareira e voltou ao caminho que levava à citadela. Caminhava há já algum tempo quando ouviu o som das patas de um cavalo a aproximar-se. Colocou o capuz na cabeça e procurou continuar o mais calmamente possível. O seu coração batia mais depressa, pois nem tinha pensado na eventualidade de encontrar alguém pelo caminho ou de alguém lhe poder perguntar o que fazia ali. Ninguém podia suspeitar que voltava de uma visita à Senhora do Bosque!

Os passos do cavalo ficavam cada vez mais próximos e o seu coração batia mais depressa. Até que sentiu o seu dragão latejar. Seria Rafael? Ele dissera que haviam mais dragões. E se não fosse? Também sentiria na certa o seu dragão! O seu coração acelerava mais do que pensara ser possível. Uma voz soou então.
- Não devíeis andar por aqui sozinha!

Impressão sua ou a voz lhe era familiar? Diana olhou para cima, para aquele que acabara de chegar junto a si e, para seu alívio, reconheceu o viajante, mesmo que a sua marca não estivesse à vista.
- Rafael!
- Perdida?
- De viagem. - respondeu sorrindo.
Ele perscrutava-a, mas nada encontrava. Parecia que ela se tinha lembrado de correr a sua cortina.

- Também vindes de uma visita? - acabou por perguntar Diana.
- Venho fazer uma... Sobe! Escusas de ir a pé, sozinha!
Apesar de sentir algum receio, Diana agradecia a oportunidade de poder obter mais alguma informação.
- Não preferis caminhar um pouco comigo, antes de continuar caminho?
Rafael hesitou.
- Não preferes descansar da viagem, subir e chegar logo? - disse estendendo a mão a Diana para a ajudar a subir ao cavalo.
- Preferia conversar um pouco! Tenho algumas coisas a contar-vos...
Rafael receava as perguntas que pudessem chegar, mas também queria saber mais. Acabou por descer do cavalo e acompanhá-la a pé.
- O que tens para me contar? - perguntou.
- Uma noite destas sonhei com a minha mãe de sangue e o momento em que recebi o meu dragão... No sonho ele voava do braço dela para o meu! Ela dizia pressentir um perigo e dizia que teríamos de nos afastar para minha protecção... Bem sei que dormia e sonhava, mas parecia tão real...! Parece-vos que poderia ser a magia do dragão a revelar-me aquele momento?
- Parece-me que tiveste uma visão... Que mais te mostrou?
- Nesse momento, apenas isso!
- Nesse momento?
Diana anuiu. Queria contar-lhe, apesar de não saber se deveria ou como.
- Voltou a acontecer e... mostrou-me o momento em que minha mãe me entregou à mulher que me criou, pedindo-lhe que... se algo lhes acontecesse, a minha educação ficasse a cargo de um guardião chamado Belchior!

Diana olhava-o com atenção e percebera que o nome alterara algo na sua expressão. Rafael conhecia bem aquele nome. Tinha-o ouvido muitas vezes na sua juventude. Belchior, o traiçoeiro! Mas não lhe apetecia contar-lhe essa história, devia esquivar-se; escolher bem as palavras.
- Sabeis quem é? - ela perguntou impaciente.
- Não o conheço. Mas aqueles que primeiro receberam o poder do dragão eram vistos como guardiões e muitas vezes chamados como tal.
- E quem foram essas pessoas? Como receberam o poder do dragão?
Rafael respirou fundo. Estava a aproximar-se de terrenos que não queria pisar. Achava que ainda não era o momento, mas o que poderia dizer-lhe?

- Os deuses concederam o poder do dragão a um conjunto de homens, entre eles druidas, reunidos com o intuito de proteger o conhecimento dos antigos de tudo o que estava para vir no mundo dos homens. A seu pedido, esta protecção foi-lhes concedida e o poder do dragão foi distribuído em seis partes e por seis homens, os guardiões, cada um deles reservando em si o poder de um dragão-elemento. Eram estes os dragões: da água, da terra, do fogo, do ar, do sol e da lua. Cada um destes homens, que havia demonstrado a sua lealdade à irmandade, continha em si a magia e sabedoria do seu dragão, representado na sua pele de uma forma mágica. A partir desse momento, o poder do dragão é passado de geração em geração. O filho mais velho recebe este poder e continua o ciclo.

Rafael calara-se, avaliando o que mais deveria dizer. Diana olhava atentamente nos seus olhos, algo fascinada com a história da sua marca, e incentivando-o a continuar, enquanto a sua mão segurava inadvertidamente o seu pulso tatuado.
- Nós somos a terceira geração do dragão. - acabou por dizer.
- Isso significa que os nossos avós foram os primeiros guardiões?!
Rafael anuiu.
- Isso significa que este Belchior podia até ser o meu avô... Ou conhecê-lo...!
Rafael permanecia em silêncio. Não queria falar de Belchior.
- Devo encontrá-lo!
- Pode não ser possível. - diz Rafael, olhando em volta de sobrolho levantado.

Diana continua a olhá-lo, procurando descobrir os pensamentos que ele parecia não querer partilhar; procurando o seu olhar. Até que decide, finalmente, confrontá-lo.
- Parece que há algo que não me quereis contar... - disse, colocando-se à sua frente.
Rafael olha-a sem saber o que responder.
- Impressão tua. Pensava apenas há quantos anos terá acontecido esse episódio... Esse homem pode já nem viver entre os homens! - e antes que Diana colocasse a questão que parecia eminente, continuou - Tenho de pôr-me a caminho, ainda tenho algo a fazer antes da noite chegar. Vamos?

Diana coloca a mão no braço de Rafael, segurando-o, com o intuito de o impedir de subir no cavalo.
- Conta-me como se cruzam as histórias dos nossos dragões? Porque disseste que não sabias se podias confiar em mim? Porque se querem matar?!
Rafael não contava com a sua frontalidade. Aquela era uma Diana firme e decidida, diferente da que tinha conhecido até então.
- Preciso saber. - insistia Diana, calmamente.
- É uma história longa e este não é o momento. - respondeu, ajeitando as rédeas e subindo no cavalo - Aliás, falta pouco para chegarmos!
- Quando será esse momento?
- Vens? - perguntou ele ao estender a mão para a ajudar a subir.
Ela estendeu o braço e aceitou a ajuda.
- Podes ir começando... Não sei quando nos voltamos a encontrar...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap.5 (parte 2 de 2)


Selénia olhou Diana em silêncio e fez um gesto com a sua cabeça em concordância. Ela levantou-se para pegar numa tigela de cima da mesa e verteu um pouco do líquido onde as ervas ferviam ao lume. Voltou a sentar-se, levantou um pouco a tigela à sua frente e disse:
«Da Lua à terra,
da terra às raízes,
das raízes à planta,
da planta ao fruto
do fruto ao sumo
possam o Deus e a Deusa consagrar e abençoar o conteúdo desta taça.
Que assim seja!»

Olhou então Diana, entregando-lhe a taça.
- Bebe.
- Uma poção para permitir a Visão?
- Não, mas conforta a alma, ajudando a lidar melhor com o que quer que a Visão te possa trazer. Bebe.
Diana levou a taça à boca, bebericando um pouco da mistura quente.

Após alguns tragos, Selénia pediu-lhe para fechar os olhos. Diana pousou a taça ao seu lado e fez como ela lhe pediu. Depois a voz de Selénia surgiu no ar, suave e pausadamente.
- Sente o chão debaixo dos teus pés... Deixa que o cheiro das ervas percorra o teu ser, inspirando-o... Ouve o som das achas crepitando no lume... Sente o líquido que bebeste aquecer-te as entranhas...
Diana procurava seguir cada uma das suas palavras, fazendo o que lhe pedia, entregando a sua atenção aos seus sentidos.
- A Terra, o Ar, o Fogo, a Água, regressa, regressa, regressa. Que a Deusa te conceda a Visão e que os teus antepassados o permitam. A Terra, o Ar, o Fogo, a Água, regressa, regressa, regressa. Que a magia que carregas se manifeste e te mostre quem tu és!

Os elementos pareciam bailar diante dos olhos da sua mente. As palavras de Selénia continuaram, mas Diana ouvia-as cada vez mais longe. Viu o rosto da sua mãe, que rapidamente se desvaneceu. Voltou a ouvir as palavras de Selénia. Sentiu-se, então, num outro lugar, numa casa onde se encontravam mais pessoas. Rapidamente a presença de Selénia deu lugar à de sua mãe e a imagens que já conhecia. Viu sua mãe dizer-lhe que teriam de afastar-se por uns tempos. Viu-a colocar o dragão no braço da pequena Diana. Viu-a sorrir perante o divertimento da pequena com o dragão e a sua lua, embora de uma forma triste.
Uma mulher aproxima-se então de ambas.
- Alba chegou, senhora.
- Pede-lhe para entrar, Ilena.
Passado poucos minutos, outra mulher entra no quarto onde se encontravam. Diana reconheceu nela a sua mãe de criação.
- Alba!
- Senhora! Tendes a certeza que é o momento?
- Algo me diz que não devo adiá-lo. Leva a pequena Diana e cuida dela. Espero encontrar-vos em breve. Se alguma coisa nos acontecer, procura Belchior, ele deverá cuidar da sua educação. Será o único que a poderá colocar no seu caminho, deverá orientá-la no estudo da Arte!
- Como encontrarei o guardião se ele se encontra desaparecido?

Neusa sorri, mostrando-se confiante.
- Confio em ti. Sei que darás o teu melhor no que te peço. Agora vai! Que a Deusa vos proteja!
Neusa beija carinhosamente a pequena Diana e apressa a saída de ambas.
- É urgente! Vai! Irei ao vosso encontro assim que puder!
Alba sai da sala com a pequena pela mão.

A imagem de Neusa permanece e Diana quase pode sentir uma angústia, como que sentindo a antecipação de algo.




Tudo começa, então, a desvanecer-se e surge a imagem de dois dragões: o dragão do sol e o dragão da lua. Ambos parecem bailar à sua frente, girando, até formarem um círculo completo.

Diana reconhece a imagem e, nesse instante, instala-se uma neblina que não lhe permite ver nada mais. Ela sente que há mais por detrás dessa neblina e faz um esforço para rasgá-la, mas não consegue. Sente frustração por senti-lo e não conseguir e, subitamente, sente um sufoco como se emergisse à superfície de um lago e lutasse para recuperar o fôlego.

Ao abrir os olhos, vê Selénia junto a si. Esta aguarda em silêncio que Diana se recomponha.
Após alguns momentos, Diana mostra uma expressão próxima de desespero e Selénia oferece-lhe a beber mais um pouco da taça. Diana não tem vontade, mas faz um esforço.

- A Visão não mostra o que queremos, mas o que precisamos saber no momento.
- Mas eu preciso de mais! Havia mais, podia senti-lo, mas não consegui!… Mostrou-me apenas o que já conhecia!
- Tens a certeza que já conhecias tudo o que te mostrou? – perguntou Selénia com um leve sorriso nos lábios.
- Quase tudo, sim.
- Quase tudo… Pois esse quase pode ser precisamente aquilo que precisas saber neste momento.
- Compreendo, mas…  preciso de saber mais! Podeis invocar novamente a Visão?
- Não. – respondeu ela prontamente. – Nada de novo te iria mostrar.
- Mas…
- Confia na Deusa! Confia na magia que faz parte de ti e quem tu és!
- Parte de quem sou… Não sei quem sou… não conheço essa magia…!
- Confia. O conhecimento ser-te-á revelado no momento certo!
- Essa magia nunca se revelou até há pouco tempo!
- Mas revelou-se, verdade?
- Penso que sim! Têm acontecido coisas que me são estranhas.
- Revelou-se porque o momento chegou. Significa que estás pronta ou que a oportunidade surgiu.
- Começou a revelar-se quando conheci alguém. – contou hesitante – Desde então os acontecimentos têm-se sucedido uns aos outros.
- E esse alguém partilha da tua magia?
- Parece que sim. Temos uma marca parecida… Como sabeis?
- Mostra-me essa marca. – pediu Selénia.

Diana descobriu o antebraço e a expressão de Selénia alterou-se.
- O que necessitares saber irá ser-te revelado. Confia.
E Selénia afastou-se, começando a mexer nas ervas sobre a bancada.


- Sabeis dizer-me algo sobre esta marca? Esta magia?
- Apenas sei que a energia do Dragão caminha no Reino dos homens com um propósito específico. Nada mais te saberei contar. Dizes que essa pessoa que conheceste tem uma marca parecida?
- Sim. Ele disse-me que esta é a marca do dragão da lua e ele tem a marca do dragão do sol.
Selénia parara de colocar ordem na sua bancada, virando-se para olhar Diana.

- Sabeis algo mais sobre o que conto? – perguntou Diana ao notá-lo.
- Não… não! – respondeu Selénia sorrindo. – Apenas se me oferece dizer-te que a Deusa tem, por vezes, estranhas formas de nos mostrar o caminho e nos dar a conhecer o nosso destino.
- O destino… Ele disse-me que esta marca significa que tenho um destino mágico.
- E disse-te  algo sobre esse destino?
- Não sabe qual é e também não me contou o seu… nem sei bem o que poderá ser um destino mágico! – acabou por dizer quase que envergonhada por sentir que devia sabê-lo.
- Algo que terás de concretizar pela magia que carregas…
Diana encolheu os ombros.
- Talvez!
- Parece que foi o encontro com essa pessoa que despertou a magia em ti!
- Sim. A partir de então tudo tem acontecido!
- E continuará a acontecer, Diana! Tens em ti a força para enfrentar todas as dificuldades que vêm pela frente. Confia!
- Dificuldades?
- Tudo o que a magia te mostrar e que te é desconhecido!...
- Gostaria de ter quem me orientasse nesta… - Diana recorda o que a Visão lhe mostrou. Que a sua mãe pedira a Alba que fosse Belchior a orientá-la no estudo da Arte. Um guardião?!
- O que foi? – perguntou Selénia surpreendida pelo súbito silêncio.
- Preciso de encontrar um guardião chamado Belchior! Diz-vos algo?
Diana não conseguia descortinar nada no rosto de Selénia, mas estranhava o seu silêncio.
- Guardião?! – acabou esta por perguntar.
- Ou considerado como tal, não sei. Apenas sei que se chama Belchior…
- Quem é esse guardião?
- Alguém que a minha mãe queria que orientasse a minha educação e estudo da Arte! Ele deve saber tudo sobre esta magia! Preciso saber quem é, encontrá-lo!
Selénia ponderava o que dizer.
- Essa é a informação que a Visão te mostrou e que não conhecias? – acabou por perguntar.
- Sim. Soube que a minha mãe de sangue queria que um guardião de nome Belchior me ajudasse a encontrar o meu caminho, me orientando no estudo da Arte... Soube que este se encontrava desaparecido de alguma forma. O resto... - Diana olhara para Selénia antes de continuar - já conhecia.
- Podes contar-mo?
- Em parte foi-me mostrado num sonho... Vi como recebi esta marca da minha mãe, num momento em que ela sentia que corríamos perigo... Vi-a pedir à minha mãe de criação que me levasse para que eu e o dragão ficássemos a salvo, pedindo-lhe que cuidasse de mim e que, se algo lhes acontecesse, cuidasse que a minha educação fosse orientada por este guardião. Alba receava não conseguir encontrá-lo e não deve tê-lo conseguido!...
Selénia permanecia em silêncio, como que avaliando tudo aquilo. Diana não a conhecia, mas sentia que podia confiar naquela mulher. Parecia-lhe, no entanto, que ela pensava em algo que não queria partilhar.
- E o que aconteceu à tua família?
- É o que procuro saber. Apenas sei que morreram num incêndio... Nada mais sei sobre eles, a magia ou o dragão!
O olhar de Diana apelava a Selénia por alguma ajuda.
- Confio que saberás mais quando estiveres preparada para tal.
- E como posso preparar-me? Terei de esperar muito por esse momento?
- Compreendo a tua angústia, mas não tenho resposta para essas perguntas! - respondeu afagando-lhe o rosto com a sua mão direita.
Diana pousava os olhos no chão, de sobrolho franzido. Ela queria respostas. Continuaria a procurá-las. Ainda assim, sentia algum conforto por poder compartilhar as suas dúvidas e a sua história com Selénia.
- Confio que não terás de esperar muito...

- Que assim seja!... 

- E essa pessoa que conheceste... Não sabe contar-te mais sobre a tua magia e o dragão?
- Se o conseguisse encontrar...! Ele não quis contar-mo no momento, corria para qualquer lado... E ainda não consegui voltar a perguntar-lhe... Ele disse que a história dos nossos dragões se cruzava, pelo que percebi, de alguma forma menos feliz, pois ele disse não saber se poderia confiar em mim!...
- Porquê?
- Não sei! - responde Diana, encolhendo os ombros - Falou-me apenas nas suas energias opostas...
- Não são opostas, mas diferentes. Complementam-se.
- Foi o que lhe disse! Falei-lhe nos deuses...
- E ele, o que respondeu? -Selénia quis saber.
- Disse-me que a história dos nossos dragões era diferente! Mas não pareceu ter grande vontade de a contar. De facto, se não confia em mim e não tem vontade de contar o que quer que seja, é bem provável que nem o volte a ver; ele nem é daqui!
- E tu confias nesse homem e no que conta?
- Não sei o que pensar!...
- Pergunto-te o que sentes!
- Embora os meus pensamentos me provem que não posso confiar nele, sinto algo completamente diferente! - Diana olhava Selénia como que procurando um sinal que lhe indicasse se seria seguro fazê-lo, mas nada conseguia descortinar.

- O que sentes?
- Que ele é de confiança...
- E porque pensas que assim não é?
- Porque ele usa a magia...
Selénia levantou o sobrolho.
- Se tu soubesses como, não a usarias?
- ... Talvez... Mas ele diz que os nossos dragões se querem matar um ao outro! Algo que terá a ver com a história que não me contou.
- E o que te parece?
- Não sei!... Mas... a Visão mostrou-me uma imagem que já tinha surgido nos meus pensamentos quando aproximei o meu dragão do dele...
Selénia permanecia em silêncio e Diana continuou.
- A imagem dos dois dragões, um ao contrário do outro, completando um círculo... Será que significa que se perseguem um ao outro em círculos?
- Foi o que te pareceu?
- No momento não... - Diana baixou os olhos, corando levemente ao recordar a imagem que viu a seguir a essa naquele dia com Rafael, mas preferiu não a partilhar com Selénia. O que pensaria ela de si? Pelo sim pelo não correu a cortina! - Pareceram-me, simplesmente, complementar-se e fecharem o círculo!
Selénia sorriu. Diana não percebera porquê, mas não queria perguntar o motivo, não fora ela perceber algo mais.
- Parece-me que descobrirás o teu destino mágico em breve. - dizia Selénia.

As perguntas amontoavam-se na sua mente e Selénia, como se o percebesse, continuou.
- Não sei o quê, como, nem quando... Apenas o sinto. Confia no que tu sentes! Confia no que a magia te mostra. Ela continua a revelar-se para ti!
Diana esboçou um sorriso vago, agradecendo-lhe as palavras.
- Gostaria que conversasses comigo de vez em quando. Que me contasses como vais descobrindo a magia que há em ti! Será que poderias...?
- Claro! Muito me agrada sabê-lo, pois não vos pediria... Preciso de falar com quem conheça a Arte, como vós, a Senhora do Bosque...
- Selénia, por favor!...
- Não sei como agradecer-vos! Não imaginais como é importante para mim...
Selénia sorriu.
- Pareces-me ser uma boa rapariga e a tua energia é-me de alguma forma familiar. Fico contente por poder ajudar.

Diana sorriu sentindo-se mais aliviada. De alguma maneira aquela mulher conseguira serenar as suas dúvidas e anseios. Sentia-se agora melhor.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap. 5 (parte 1 de 2)


Diana queria saber mais. Tinha de saber. Havia dias que não via Rafael, por mais que o procurasse. A conversa com o seu pai não dera os frutos que esperava, de facto, tinha servido apenas para levantar mais questões. Voltou a lembrar-se da Senhora do Bosque. Sentia-se cada vez mais tentada a ignorar as histórias que sobre ela se contavam para saber um pouco mais. Se ela fosse uma feiticeira, renegada ou não, seria capaz de ajudá-la.

Decidiu não esperar mais. Encontraria a Senhora do Bosque e seguiria o seu intento. Deixou a vila, afastou-se das muralhas e da sua citadela. Embrenhou-se na floresta pelo seu pé. Pensou se não estaria a cometer um erro, mas nada a faria voltar agora. Logo saberia se receberia ajuda ou não. Seguiu em direcção a Norte até chegar ao grande carvalho de que lhe tinham falado. Dali seguiu sempre em frente em direcção ao sol poente. Não tardou a encontrar uma clareira ladeada de árvores. Olhou em volta. Sabia que a cabana que procurava não seria longe dali, pois o círculo na floresta era considerado o Bosque Sagrado. Decidiu parar um pouco antes de continuar. Olhou a clareira. Pediu respeitosamente ao Espírito do Lugar autorização para entrar. Avançou então até ao meio do círculo e sentou-se no chão. Sentiu que as energias daquele local sagrado lhe poderiam ser úteis de alguma forma. Sentia que precisava delas. Não sabia bem o que fazia, seguia apenas o que estava a sentir. Pousou as mãos no solo, fechou os olhos, inspirou profundamente e pediu à mãe Natureza que a ajudasse na sua senda ali. Por momentos pareceu-lhe sentir a pulsação da terra. Abriu os olhos e olhou em volta. Ninguém. Voltou a sua atenção uma vez mais para a terra e fechou os olhos. Voltou a sentir aquele pulsar, sentiu uma energia fresca subir-lhe pelos braços, percorrê-la. Sentiu a terra, as árvores em volta, os pássaros, o vento, o sol. Sentiu-se parte de tudo aquilo e cada elemento parte de si. Sentiu-se leve, revigorada.

Abriu os olhos e viu uma figura feminina esgueirar-se por entre as árvores. Devia ser ela, pensou. Decidiu segui-la, mas por mais que a procurasse, não voltou a vê-la. No entanto, ao seguir naquela direcção, não tardou a encontrar uma cabana. Chegara. Só lhe restava entrar. Sentia as suas energias e motivação renovadas. Antes de bater à porta, ela abriu-se. Uma mulher olhou-a nos olhos e convidou-a a entrar. Não conseguia imaginar a idade da mulher, talvez devido às histórias que tinha ouvido. Mas apesar de os anos parecerem ter passado por ela, achou-a muito bela. Sentiu o seu olhar sereno. Era dali que vinha a sua beleza. Diana entrou e agora que ali estava, não sabia por onde começar. Como se o percebesse, a mulher iniciou a conversa.

- Esperava por ti. – disse.
- Por mim?! Sabeis quem sou? – perguntou Diana sem saber o que pensar.
- Sei que me procuras.
- Como?!
- Ninguém chega ao Círculo Sagrado sem que eu o perceba. E se o faz é porque me procura.
- Por instantes pensei que soubésseis mais... – respondeu Diana.
- Mais?... O que esperas que eu saiba?
- Espero que me possais ajudar a saber mais sobre mim... – disse acariciando o seu pulso, quase sem dar por isso.
- Referes-te à magia que te corre no sangue?
Diana sentiu-se novamente surpreendida pela pergunta da estranha mulher que, se nada sabia sobre si, parecia lê-la muito bem.

- Posso senti-la! – Disse, sorrindo,  como que respondendo à sua dúvida. – Vem, senta-te.

Diana avançou até ao banco indicado pela mulher. À sua direita via ervas penduradas por cima de uma janela frente a uma bancada que deveria servir para preparar o que pensou serem remédios. Em cima desta, via pousados diversos frascos com ervas e preparados. À medida que avançava, um cheiro adocicado a ervas se ia tornando mais forte. Apercebeu-se que vinha de uma mistura que fervia no lume ao seu lado, agora que se sentava. Olhou a mulher à sua frente que sorria perante a sua curiosidade e constrangimento.

- O meu nome é Selénia e quem vem até aqui, procura geralmente uma cura para algum mal seu ou de alguém próximo.
O seu sorriso e o seu olhar profundo tranquilizaram-na.

- Chamo-me Diana e não sofro de um mal físico, mas de um vazio que me angustia. Preciso saber mais sobre as minhas origens!... A cura que procuro é o conhecimento!
- Esse não posso oferecer-to com as minhas ervas e preparados. Terás de o encontrar em ti.
- Mas podeis ajudar-me a pedir ajuda aos meus antepassados?
- Posso chamar a ti a Visão, o que ela trará não sei.
- Assim seja.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap. 4 (parte 2 de 2)

fotografia de
Sofia Morgado
Diana arrumava as coisas em volta, enquanto seu pai, sentado, trabalhava o couro. Procurava na sua mente as palavras mais adequadas para abordar o assunto com ele. Tinha uma boa oportunidade para fazê-lo, pois estavam sozinhos. De vez em quando ele olhava-a como se percebesse que lhe queria dizer algo.
- O que queres rapariga? Desembucha de uma vez!

Tinha sido apanhada desprevenida.
- Eu?!
- Sim, o que queres?

Diana hesitou.
- …Um destes dias sonhei com um momento em que era bem pequena…

Mauro levantou o sobrolho e voltou a olhar para o trabalho que tinha em mãos. Diana pensou que já que tinha começado, teria de arriscar.
- Sonhei que a minha mãe de sangue me disse que eu teria de ir para longe, pois corríamos perigo!...
- Estou a ver… - disse ele entre dentes.
- Porque correríamos perigo é que não percebi! Penso que era demasiado pequena para o compreender.
- E o que esperas que te diga?

Diana avançou até ele e, baixando-se e olhando-o de frente, resolveu perguntar-lhe directamente:
- De que tinha ela medo?
- Apenas sei dizer-te que tinha algo a ver com a magia. – Respondeu Mauro de forma seca.
- Será que teve algo a ver com o incêndio? Como foi que aconteceu?

Tornava-se cada vez mais claro que Mauro não queria falar sobre aquilo.  Ele pareceu remoer na questão até que acabou por responder. 
- Foi um incêndio, rapariga! Como esperas que tenha acontecido?! Porque insistes neste assunto?!
- Porque tento perceber o que aconteceu! Porquê?!
- Não cuidámos de ti, Alba e eu? Não te demos uma família?!
- Não é disso que se trata!... Porque é que este assunto vos irrita sempre tanto?!
- Irritar-me?!? Achas que não deva irritar-me? – Disse visivelmente alterado e levantando-se do banco onde estava sentado - Não foste a única a perder família naquele dia…!
- Como assim?! – Diana não sabia de que ele falava.

Mauro andou em volta da mesa onde trabalhava. Parecia ter falado mais do que queria. Diana continuava a inquiri-lo com o olhar. Ele aproximou-se de si, segurou-lhe a mão e falou, finalmente, numa voz mais calma.
- Junto de teus pais, estava minha irmã e sua filha… uma menina que tinha a tua idade!

Diana não sabia o que dizer, o seu queixo pendia com a surpresa.
- Era a mãe de Dália e Hugo.
- Perdoai a minha insistência! Não sabia…! - Dizia Diana colocando a outra mão em cima das de Mauro, que seguravam a sua.
- Sobrinhos ou não, preferimos ter-vos por igual e nunca contar o que acontecera. Eram todos pequenos, mais rapidamente esqueceriam o sucedido. Mas tu, tu sempre quiseste saber mais, sempre perguntaste! Nunca deixaste ir!...
- Deve ter sido terrível para vós!...
- Parece-me que aceitei melhor o que aconteceu do que tu! Porque não o aceitas? Porque não deixas ir?

Diana hesitou antes de responder.
- O que elas faziam lá?
- Minha irmã trabalhava na casa da tua família. Alba tinha-te trazido para passar uns tempos connosco, parece que a pedido da tua mãe de sangue. Depois soubemos o que aconteceu e… a tua mãe… Alba, não tinha sido agraciada pela Deusa; não tínhamos filhos… Dália era apenas um bebé e o marido de Ilena, minha irmã, foi-se embora e… cuidámos de vocês como se fossem nossos filhos!
- Meu pai… - começou Diana, mas Mauro interrompera-a.
- Por isso, pergunta agora o que queres e deixa o assunto ficar no passado de vez – onde pertence!

Face a tal revelação, as perguntas pareciam perder importância. Diana forçava-se a encontrá-las. Poderia não voltar a ter outra oportunidade para fazê-las.
- Dizeis que minha mãe estava assustada por algo que tinha a ver com a magia…?
- É só o que sei.

Diana pensava em silêncio.
- Agora percebo porque esse assunto vos afecta tanto e porque nada quereis saber de magia…! Ainda assim vós me acolhestes…!
- Porque não havia de fazê-lo?
Diana encolheu os ombros.

- Que mais queres saber?
-... O incêndio teve algo a ver com o perigo que corriam?
- Nada sei sobre esse assunto. Prefiro pensar que o perigo que a tua mãe de sangue pressentiu foi o próprio incêndio!
- Minha mãe...Alba ou a vossa irmã contavam algo sobre como era lá por casa?
-... Alba gostava muito deles, dizia que eram boa gente, preocupados com o bem-estar dos outros em volta. Não esqueço as vezes que nos ajudaram através de minha irmã Ilena!... Alba dizia que Neusa andava nervosa com alguma situação relacionada com o seu pai, o teu avô... algo que tinha por resolver.
- Uma situação?!...
- Nada mais sei!
- Sei que não gostais de falar destes assuntos, mas tenho que perguntar… o que sabeis sobre a minha marca e a sua magia?
- Apenas sei que é um símbolo da magia que corre no sangue da vossa família; o poder do dragão da lua. Nada mais sei. Neusa era uma mulher respeitada pelo povo, assim como o seu pai, mas os tempos mudaram… Este tornou-se um assunto muito perigoso e muitas histórias se contam, já nem se sabe muito bem se com um fundo de verdade ou com algum propósito!

Diana sentia que cada caminho se lhe afigurava sem saída. Precisava de respostas e temia agora que o seu pai de criação também não as tivesse.
- Ilena era a mãe de Dália e Hugo? – acabou por perguntar.
- E de Luana.
- Luana era a criança… ?
Ele anuiu.
- Teria mais ou menos a tua idade.

Diana registava mentalmente toda aquela informação. Procurava avaliar o peso que tudo aquilo teria tido para ele.
- Mas Hugo é mais velho… ele não perguntava?
- Apenas um ano de diferença! Era pequeno o suficiente para esquecer tudo e aceitar uma nova vida. Rapidamente deixou de nos chamar tios e nos passou a tratar por pai e mãe, tal como vocês duas!

Diana não sabia o que mais perguntar ou dizer. Mauro antecipou-se.
- Alguma outra pergunta que queiras fazer?...
Diana abanou a cabeça, sem encontrar mais palavras que fizessem sentido naquele momento.
- Aproveita agora porque quero enterrar o assunto de uma vez por todas! Não quero mais perguntas sobre esta história!
- Ficai descansado, meu pai. – Fora apenas o que lhe ocorrera.

Diana deu um beijo na face de Mauro, esboçando um leve sorriso e voltou aos seus afazeres. Quem entrasse naquele momento, pensaria que a manhã teria passado tranquila naquele lugar e que nada se tinha passado.