segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sob a Marca do Dragão - Cap. 6 (parte 1 de 2)


Diana despedira-se de Selénia prometendo voltar em breve e pusera-se a caminho. Passou ao largo da clareira e voltou ao caminho que levava à citadela. Caminhava há já algum tempo quando ouviu o som das patas de um cavalo a aproximar-se. Colocou o capuz na cabeça e procurou continuar o mais calmamente possível. O seu coração batia mais depressa, pois nem tinha pensado na eventualidade de encontrar alguém pelo caminho ou de alguém lhe poder perguntar o que fazia ali. Ninguém podia suspeitar que voltava de uma visita à Senhora do Bosque!

Os passos do cavalo ficavam cada vez mais próximos e o seu coração batia mais depressa. Até que sentiu o seu dragão latejar. Seria Rafael? Ele dissera que haviam mais dragões. E se não fosse? Também sentiria na certa o seu dragão! O seu coração acelerava mais do que pensara ser possível. Uma voz soou então.
- Não devíeis andar por aqui sozinha!

Impressão sua ou a voz lhe era familiar? Diana olhou para cima, para aquele que acabara de chegar junto a si e, para seu alívio, reconheceu o viajante, mesmo que a sua marca não estivesse à vista.
- Rafael!
- Perdida?
- De viagem. - respondeu sorrindo.
Ele perscrutava-a, mas nada encontrava. Parecia que ela se tinha lembrado de correr a sua cortina.

- Também vindes de uma visita? - acabou por perguntar Diana.
- Venho fazer uma... Sobe! Escusas de ir a pé, sozinha!
Apesar de sentir algum receio, Diana agradecia a oportunidade de poder obter mais alguma informação.
- Não preferis caminhar um pouco comigo, antes de continuar caminho?
Rafael hesitou.
- Não preferes descansar da viagem, subir e chegar logo? - disse estendendo a mão a Diana para a ajudar a subir ao cavalo.
- Preferia conversar um pouco! Tenho algumas coisas a contar-vos...
Rafael receava as perguntas que pudessem chegar, mas também queria saber mais. Acabou por descer do cavalo e acompanhá-la a pé.
- O que tens para me contar? - perguntou.
- Uma noite destas sonhei com a minha mãe de sangue e o momento em que recebi o meu dragão... No sonho ele voava do braço dela para o meu! Ela dizia pressentir um perigo e dizia que teríamos de nos afastar para minha protecção... Bem sei que dormia e sonhava, mas parecia tão real...! Parece-vos que poderia ser a magia do dragão a revelar-me aquele momento?
- Parece-me que tiveste uma visão... Que mais te mostrou?
- Nesse momento, apenas isso!
- Nesse momento?
Diana anuiu. Queria contar-lhe, apesar de não saber se deveria ou como.
- Voltou a acontecer e... mostrou-me o momento em que minha mãe me entregou à mulher que me criou, pedindo-lhe que... se algo lhes acontecesse, a minha educação ficasse a cargo de um guardião chamado Belchior!

Diana olhava-o com atenção e percebera que o nome alterara algo na sua expressão. Rafael conhecia bem aquele nome. Tinha-o ouvido muitas vezes na sua juventude. Belchior, o traiçoeiro! Mas não lhe apetecia contar-lhe essa história, devia esquivar-se; escolher bem as palavras.
- Sabeis quem é? - ela perguntou impaciente.
- Não o conheço. Mas aqueles que primeiro receberam o poder do dragão eram vistos como guardiões e muitas vezes chamados como tal.
- E quem foram essas pessoas? Como receberam o poder do dragão?
Rafael respirou fundo. Estava a aproximar-se de terrenos que não queria pisar. Achava que ainda não era o momento, mas o que poderia dizer-lhe?

- Os deuses concederam o poder do dragão a um conjunto de homens, entre eles druidas, reunidos com o intuito de proteger o conhecimento dos antigos de tudo o que estava para vir no mundo dos homens. A seu pedido, esta protecção foi-lhes concedida e o poder do dragão foi distribuído em seis partes e por seis homens, os guardiões, cada um deles reservando em si o poder de um dragão-elemento. Eram estes os dragões: da água, da terra, do fogo, do ar, do sol e da lua. Cada um destes homens, que havia demonstrado a sua lealdade à irmandade, continha em si a magia e sabedoria do seu dragão, representado na sua pele de uma forma mágica. A partir desse momento, o poder do dragão é passado de geração em geração. O filho mais velho recebe este poder e continua o ciclo.

Rafael calara-se, avaliando o que mais deveria dizer. Diana olhava atentamente nos seus olhos, algo fascinada com a história da sua marca, e incentivando-o a continuar, enquanto a sua mão segurava inadvertidamente o seu pulso tatuado.
- Nós somos a terceira geração do dragão. - acabou por dizer.
- Isso significa que os nossos avós foram os primeiros guardiões?!
Rafael anuiu.
- Isso significa que este Belchior podia até ser o meu avô... Ou conhecê-lo...!
Rafael permanecia em silêncio. Não queria falar de Belchior.
- Devo encontrá-lo!
- Pode não ser possível. - diz Rafael, olhando em volta de sobrolho levantado.

Diana continua a olhá-lo, procurando descobrir os pensamentos que ele parecia não querer partilhar; procurando o seu olhar. Até que decide, finalmente, confrontá-lo.
- Parece que há algo que não me quereis contar... - disse, colocando-se à sua frente.
Rafael olha-a sem saber o que responder.
- Impressão tua. Pensava apenas há quantos anos terá acontecido esse episódio... Esse homem pode já nem viver entre os homens! - e antes que Diana colocasse a questão que parecia eminente, continuou - Tenho de pôr-me a caminho, ainda tenho algo a fazer antes da noite chegar. Vamos?

Diana coloca a mão no braço de Rafael, segurando-o, com o intuito de o impedir de subir no cavalo.
- Conta-me como se cruzam as histórias dos nossos dragões? Porque disseste que não sabias se podias confiar em mim? Porque se querem matar?!
Rafael não contava com a sua frontalidade. Aquela era uma Diana firme e decidida, diferente da que tinha conhecido até então.
- Preciso saber. - insistia Diana, calmamente.
- É uma história longa e este não é o momento. - respondeu, ajeitando as rédeas e subindo no cavalo - Aliás, falta pouco para chegarmos!
- Quando será esse momento?
- Vens? - perguntou ele ao estender a mão para a ajudar a subir.
Ela estendeu o braço e aceitou a ajuda.
- Podes ir começando... Não sei quando nos voltamos a encontrar...

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